quarta-feira, 16 de setembro de 2015



Alessandro da Silva 
Giovani Lima de Souza 
Ilan Fonseca de Souza 
Luiz Alfredo Scienza 
Miguel Coifman Branchtein
Sebastião Ferreira da Cunha 
Vitor Araújo Filgueiras (ORG.)
Wilson Roberto Simon 


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No Brasil, defender a redução dos acidentes de trabalho tem sido algo parecido com atacar a desigualdade social. No campo retórico, é difícil encontrar quem defenda explicitamente a desigualdade social, como é cada vez menos frequente achar alguém que não diga ser a favor da diminuição dos infortúnios no trabalho, seja entre empresas, sindicatos, nas instituições estatais, ou mesmo no público em geral.
Contudo, vários indicadores apontam que esse senso comum em relação ao combate aos acidentes de trabalho não tem tido impacto na redução dos infortúnios, a exemplo do cenário encontrado na construção civil, setor focado por esta publicação.
Este livro pretende identificar e problematizar fatores que explicam a perpetuação do adoecimento e dos óbitos no mundo do trabalho brasileiro, a maioria deles diretamente associada a situações e agentes que se reiteram e que são amplamente conhecidos, cujas medidas de prevenção quase sempre estão previstas na norma legal.
 Na construção civil a situação parece mais dramática, talvez por ser mais visível, tendo sido o setor com maior número de mortes de trabalhadores nos últimos anos, segundo os indicadores oficiais. Estamos falando de dados muito subestimados, mas que ainda assim demonstram um quadro trágico e sem sinais de melhora.
O crescimento do emprego formal no setor, a partir de meados dos anos 2000, foi acompanhado pelo incremento das mortes de trabalhadores. Há indicadores que sugerem que a grande maioria desses eventos está relacionada a desrespeito a normas básicas de proteção ao trabalho, que reiteradamente são descumpridas. É sobre esse padrão de gestão, que classifico como predatório, que o livro se debruça.
Os capítulos empreendem análises sobre: o comportamento empresarial em relação ao cumprimento das normas e à produção das normas de segurança do trabalho; as características do mercado de trabalho na construção civil do país; a relação entre terceirização e acidentes de trabalho nos canteiros de obra; a atuação das instituições públicas de regulação do direito do trabalho na definição de regras e na atuação direta sobre as ilegalidades flagradas. Há um capítulo específico de aplicação prática para concepção e consecução de sistemas de proteção contra queda de trabalhadores.
A maioria dos capítulos toca diretamente a individualização da saúde e segurança do trabalho, questão central da regulação da integridade física da população trabalhadora no Brasil. A individualização da saúde e segurança do trabalho é uma estratégia de defesa do atual padrão de gestão do trabalho, e busca incutir no indivíduo (no caso, o trabalhador) o foco de eventuais medidas de proteção (e a culpa, quando ocorrem os acidentes). Desse modo, mantém intocados os fatores relevantes que efetivamente contribuem para os acidentes, que não coincidentemente se perpetuam. A capa, para além de todos os equívocos de concepção e execução das medidas adotadas, fica como provocação àqueles que acham que cinto de segurança é sinônimo de prevenção de acidentes.


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